Exposição “Lucia Koch – Córte”

Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de inaugurar sua temporada de 2023 com a exposição “Córte”, da celebrada artista Lucia Koch, a partir de 16 de março de 2023. Serão apresentadas obras inéditas da série “Fundos”, uma das mais emblemáticas de sua produção, em que fotografa interiores de embalagens vazias usadas para acondicionar os mais diversos produtos, e que, ao serem ampliadas para a escala humana, se transformam em espaços arquitetônicos que interagem com o percurso da exposição, criando para o público perspectivas surpreendentes.

As obras de “Córte” foram criadas especialmente para o espaço da Nara Roesler Rio de Janeiro, e estarão também na exposição dois trabalhos ainda inéditos no Brasil, exibidos no Palais d’Iéna, em Paris, onde Lucia Koch fez a intervenção “Double Trouble”, em outubro de 2022.

Única série fotográfica de Lucia Koch, “Fundos”, iniciada em 2001, apresentou a artista ao público internacional, e desde então tem integrado exposições individuais e coletivas ao redor do mundo, como a 8ª Bienal de Istambul (2003); a 27ª Bienal de São Paulo (2006), a 11ª Bienal de Lyon (2011), e a 1a Bienal de Rabat (2019). Em 2022, na turnê “Portas”, de Marisa Monte, imagens como “Café Extra-Forte” e “Frutas” foram projetadas no palco do show, com direção artística de Batman Zavareze, fazendo com que a cantora e os músicos parecessem estar “dentro” da caixa-tela.

“Volumes pequenos proporcionam fotos de ambientes internos que aparentam ser amplos, solenes, belos. Como algo de valor assim insignificante permite tão admirável imagem?”, pergunta no texto que acompanha a exposição Francesco Perrotta-Bosch, arquiteto pela PUC-Rio, mestre e doutorando pela USP.

Da mesma forma, Dan Cameron (1956), respeitado curador norte-americano, que escreveu sobre ela no livro “Lucia Koch” (APC, 2016), comenta: “Na série ‘Fundos’, Lucia escolheu a fotografia como ponto de partida, usando o interior de caixas de papelão e de sacos de papel como “dublês” de espaços arquitetônicos reais, e fotografando-os de maneira a capturar as sutilezas da luz filtrada, como se fossem o interior de capelas ou de residências modernistas”.

PLANO REAL X VIRTUAL
As caixas são fotografadas com luz natural, e suas aberturas pré-existentes sugerem inesperadas janelas para uma “vista” externa. Duas obras da exposição são autoportantes, apoiadas no chão e não na parede, com 2,40m de altura, interceptando assim o fluxo do espectador no percurso expositivo.

Com a reforma ortográfica de 2009, caiu o acento circunflexo que diferenciava os significados de “corte” para tribunal, lugar do soberano etc., do ato ou efeito de cortar. Para o título da exposição, a artista decidiu acrescentar um acento agudo na palavra, optando pela diferenciação.

Os nomes das obras se referem ao conteúdo original da embalagem, como “Arroz Jasmin” (100 x 100cm), “Silver”, embalagem de transporte de correio (100 x 188 cm), “Kombucha” (150 x 112,5cm), e as autoportantes “Lasagna” (240 x 150cm), “SansGluten” (240 x 109cm) e “SpaghetIéna”(240 x 111cm).

Ao se apropriar de um objeto banal, cotidiano, despido de sua função inicial de armazenamento, a artista conduz nosso olhar para os vazios deixados. Essas imagens também sugerem uma reflexão sobre o universo do consumo, a economia do descarte e o vazio. O nome da exposição faz referência a representações gráficas de projetos arquitetônicos, conhecidas como “cortes” transversais ou longitudinais, que complementam a informação dada pela planta baixa.

ESCULTORA
Dan Cameron afirma que: “Lucia Koch é escultora, antes de mais nada, e por isso as obras que cria demandam um grau de materialidade física para poder existirem. Jogando com nossas expectativas de escala, Lucia também costumava imprimir as fotografias em dimensões muito ampliadas, para fazer com que a descoberta do objeto real fosse o mais desconcertante possível”.

ENIGMA, ILUSÓRIO, FANTASIOSO
Francesco Perrotta-Bosch também observa que “na suprema banalidade das caixas, Lucia Koch revela uma inesperada espacialidade arquitetônica”. “O trabalho tem algo de enigma. De ilusório. De fantasioso”, salienta. “Lucia Koch é artista com uma mentalidade renascentista quando trafega desembaraçadamente entre diversos campos do conhecimento. A fantasia engendrada por Koch provém da apropriação do método criado há seis séculos por Filippo Brunelleschi (1377-1446). O florentino concebeu a construção geométrica capaz de representar objetos tridimensionais em planos bidimensionais”.

TUDO ESTÁ VISÍVEL
Lucia Koch destaca que “não faz mágica, que está tudo visível, mesmo que às vezes seja mimético”. “Meu trabalho é muito imediato, dispensa mediação”. Ela diz que seu interesse está na percepção da alteração do espaço que pode provocar uma indagação, uma curiosidade, que leve a pessoa “a imaginar efeitos em outros lugares, a exercer o seu desejo de alterar esses lugares”.

“A percepção é um processo mental”, afirma a artista. O convívio com a mãe Maria Celeste, pesquisadora envolvida com o movimento da Matemática Moderna, adotada pelas escolas no final dos anos 1960, “parece ter incorporado, em sua produção, a disposição para investigar, com autonomia criativa, as diversas formas de resolução de um problema lógico que um conjunto de variáveis indica”, observou o curador Moacir dos Anjos no livro “Lucia Koch” (Coleção ArteBra, Aeroplano, 2009).

Sobre a série “Fundos”, ele escreveu: “Quando expostos em salas de museu ou galeria, os ambientes internos e quase nunca reparados de embalagens feitas para o manuseio apressado da mão se transmutam, por meio de suas imagens ampliadas, em paisagens estranhas e incontornáveis, com frequência da altura de uma parede inteira. Ao desordenar a esperada hierarquia escalar entre aqueles objetos e a extensão das superfícies que suas imagens ocupam nessa série, Lucia Koch desassocia, momentaneamente, as fotografias de seus referentes imediatos, assemelhando-as a perspectivas de lugares inventados. Mas além de pôr à prova maneiras usuais de se relacionar com o espaço, essas fotografias também dependem de uma fonte luminosa externa que ative os interiores escuros das caixas”.

SOBRE LUCIA KOCH
Lucia Kochnasceu em Porto Alegre em 1966. É Mestre pela UFRGS e Doutora pela Universidade de São Paulo. De 1992 a 1996 participou do projeto Arte Construtora, ocupando casas, parques e uma ilha em diferentes cidades brasileiras. De 2004 a 2006 trabalhou na criação do Jardim Miriam Arte Clube(JAMAC), um espaço coletivo de arte na zona sul de São Paulo. Está entre os artistas fundadores do projeto ali: leste, uma escola livre de arte criada em 2018 para formar artistas nas periferias de São Paulo. É professora da Escola de Comunicação e Artes da USP, no Curso de Artes Plásticas.

Sua primeira exposição foi uma coletivaem1987, no Projeto Macunaíma, na Funarte, no Rio de Janeiro, e sua primeira individual, Esculturas, em 1988, no Espaço Alternativo, também na Funarte, Rio de Janeiro. A partir daí, tem sido muito ativa no circuito nacional e internacional da arte, sendo convidada para exposições individuais ou coletivas no Brasil e outros países, como EUA, França, Alemanha, Áustria, Espanha, Holanda, Portugal, Grécia, Itália, Mônaco, Suécia, Turquia, Marrocos, México, Colômbia,Peru, Japão, Coréia do Sule Nova Zelândia.

Tem trabalhos nas coleções públicas:Pinacoteca do Estado de São Paulo;Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM, Recife);Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Contemporânea do Paraná; Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul;Museu Nacional de Brasília;SESC Belenzinho, São Paulo; National Gallery of Victoria, Melbourne, Austrália;Los Angeles County Museum of Art(LACMA), EUA; University of Warwick, Reino Unido; Fundación ARCO, Espanha; Musée d’Art Contemporain de Lyon, França;Nouveau Musée National de Monaco;FRAC Centre – LesTurbulences, Orleans, França;Getty Foundation, Los Angeles EUA; Museum of Contemporary Art San Diego, EUA; e Fundación Casa Wabi, Puerto Escondido, Oaxaca, México.

SOBRE NARA ROESLER
Nara Roesler é uma das principais galerias brasileiras de arte contemporânea, representando artistas brasileiros e internacionais fundamentais, que iniciaram suas carreiras na década de 1950, bem como artistas consolidados e emergentes cujas produções dialogam com as correntes apresentadas por essas figuras históricas. Fundada por Nara Roesler em 1989, a galeria tem consistentemente fomentado a prática curatorial, sem deixar de lado a mais elevada qualidade da produção artística apresentada. Isso tem sido ativamente colocado em prática por meio de um programa de exposições criterioso, criado em estreita colaboração com seus artistas; a implantação e estímulo do Roesler Curatorial Project, plataforma de iniciativas curatoriais; assim como o contínuo apoio aos artistas em mostras para além dos espaços da galeria, trabalhando com instituições e curadores. Em 2012, a galeria ampliou sua sede em São Paulo; em 2014 expandiu para o Rio de Janeiro e, em 2015, inaugurou um espaço em Nova York, dando continuidade à sua missão de oferecer a melhor plataforma para seus artistas apresentarem seus trabalhos.

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Cita: "Exposição “Lucia Koch – Córte”" 10 Mar 2023. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/997790/exposicao-lucia-koch-corte> ISSN 0719-8906

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